Kari Johansson, Sven Cnattingius, Ingmar N.slund, Nathalie Roos, Ylva
Trolle Lagerros, Fredrik Granath, Olof Stephansson, and Martin Neovius.
NEJM 2015, 372;814-824
Trata-se de estudo
observacional (coorte retrospectiva) que utiliza diversos bancos de dados
suecos com a finalidade de avaliar desfechos maternofetais em mulheres
submetidas à cirurgia bariátrica (CB). Para isso, gestantes pós-CB foram
pareadas com gestantes não submetidas à CB em relação à idade, paridade
(nulíparas vs. multíparas), índice de
massa corporal (IMC) pré-CB, tabagismo, nível educacional e ano do parto. De
mais de 600 mil nascidos na Suécia no período de 2006 a 2011, 1.755 nasceram de
mães previamente submetidas à CB. Após exclusão de
gemelares, ausência de peso pré-cirúrgico ou falta de controle para pareamento,
596 gestantes pós-CB foram comparadas a 2.356 gestantes sem história de CB. Os desfechos avaliados
foram: frequência de diabetes mellitus gestacional (DMG), recém-nascidos grandes
para idade gestacional (GIG), pequenos para idade gestacional (PIG), baixo peso
ao nascer, macrossomia, prematuridade, natimortos ou com malformação congênita. As
pacientes do grupo pós-CB apresentavam idade média de 31 anos, gestação 2 anos
após CB, IMC no início da gestação de 30,6 Kg/m² e perda de peso pós-CB de 38Kg
(13,8 Kg/m²). Houve menor frequência de DMG (1,9 vs. 6,8%), GIG (8,6 vs. 22,4%) e macrossomia (1,2 vs. 9,5%) e maior frequência de PIG
(15,6 vs. 7,6%) em gestantes pós-CB em relação ao grupo
não submetido à CB. Houve tendência (P = 0,06) à maior
frequência de morte neonatal e natimorto (1,7 vs. 0,7%) em relação ao
grupo controle. Quanto
maior a perda de peso pós-cirurgia, maior o risco de prematuridade pós-CB. Alguns
pontos foram destacados e discutidos no Clube de Revista:
·
Por se tratar de um estudo observacional com base em banco de
dados há certas limitações na análise que são minimizadas pelo tamanho da
população estudada e pareamento por características-chave associadas ao
desfecho;
·
As taxas de DMG devem ser avaliadas com cautela: devido a
alterações no trânsito intestinal decorrentes da cirurgia bariátrica, é comum a
ocorrência de dumping ou hipoglicemia
pós-prandial prejudicando a interpretação do teste oral de tolerância à glicose
(TOTG). Não se encontrou na literatura nenhum consenso para o diagnóstico de
DMG pós-cirurgia bariátrica;
·
Os pontos de corte utilizados para definição de DMG (TOTG 75g
tempo 0’: 126 mg/dL e tempo 120’: 180 mg/dL) diferem daqueles pontos
estabelecidos na literatura;
·
O aumento de peso durante a gestação não foi avaliado entre os
grupos e este dado é muito importante quando se analisa desfechos
materno-fetais como DMG e GIG/macrossomia. Também
é desconhecido se e quais gestantes apresentavam complicação gestacional (DMG,
prematuridade) prévia que podem aumentar o risco de complicação em nova
gestação.
Pílula
do Clube: Gestantes pós-cirurgia bariátrica
apresentam menor risco de DMG e recém-nascido GIG, porém possuem maior risco de
recém-nascido PIG em relação a gestantes pareadas por características
pré-gestacionais. Há maior tendência de natimortalidade e mortalidade neonatal
(p=0,06) nos filhos de mães submetidas à cirurgia bariátrica.
Discutido no Clube de Revista de 20/07/2015.