Sarah H. O’Brien, Terah Koch, Sara K. Vesely, Eleanor Bimla Schwarz.
Diabetes
Care 2017, 40(2):233-238.
Trata-se de estudo de coorte realizado nos EUA com
objetivo de avaliar o risco de trombose venosa (TV) entre os métodos de contracepção
hormonal disponíveis em mulheres com diabetes. Foi utilizada a base de dados Clinformatics (47 milhões de pacientes
asseguradas por plano de saúde) e participaram do estudo mulheres entre 15-45
anos que possuíam CID de diabetes no prontuário. Os desfechos trombose, AVC e
IAM foram avaliados através do CID em prontuário. Para o diagnóstico de TV a
paciente deveria ter dispensação de anticoagulante por pelo menos um mês. O
estudo separou os anticoncepcionais por método, tipo de progesterona e dose de
estrogênio. A análise estatística foi realizada através do modelo de Cox
ajustado para idade, diabetes avançado, tabagismo, obesidade, hiperlipidemia e
câncer.
Foram selecionados registros de 146.080 mulheres que
preenchiam os requisitos do estudo; 70% não utilizam nenhum método
anticoncepcional, 4% utilizavam progesterona apenas e 25% utilizavam medicação
contendo estrogênio. Das mulheres analisadas, 25% tinham diabetes com
complicações, 34% eram hipertensas e 9% eram fumantes. Quando analisados os contraceptivos
com estrogênio, não houve diferença no risco de TV entre os grupos com menos ou
mais de 30 mcg de estrógeno (RR 0,79 IC95%0,48-1,05 P=0,09). Também não houve
diferença entre as usuárias de diferentes tipos de progesterona (desogestrel,
drosperinona, gestodeno e pílula só de progesterona). Quando comparados aos contraceptivos
orais, o patch transdérmico se
associou a aumento de risco de TV (RR 1,68 IC95%1,14- 2,49 P=0,0091). Ao comparar-se os
anticoncepcionais que apenas possuíam progesterona na sua composição com o DIU,
a pílula com progesterona (RR 3,69 IC95% 2,10-8,77 P<0,0001) e a
medroxiprogesterona depósito (RR 4,69 IC95% 2,51-6,48 P<0,0001) se
associaram com aumento de risco de TV. Quando
comparado o anticoncepcional oral combinado com o de apenas progesterona, houve
aumento de eventos tromboembólicos em mulheres com menos de 35 anos (RR 0,6
IC95% 0,4-0,81 P=0,0009), já nas com mais de 35 anos não houve maior risco de TV.
Comparado com nenhum método em uso, o anticoncepcional oral contendo estrógeno se
associou com aumento de risco (RR 3,638 IC95% 2,94-3,88 P< 0,0001) e o
apenas com progesterona igualmente (RR 2,02 IC95% 1,51- 2,07 P< 0,0001). Foram
discutidos no clube os seguintes aspectos:
·
A prevalência de
mulheres em idade fértil com diabetes sem uso de métodos anticoncepcionais é muito
alta. Considerando que a gestação em uma paciente sem controle glicêmico adequado
pode aumentar a chance de mal formações fetais
e de outras complicações, este fato é grave;
·
A prevalência de TV no
grupo etário avaliado é muito baixa; apesar do diabetes e do anticoncepcional
hormonal oral serem fatores de risco para aumento de TV, este se manteve baixo;
·
Observou-se aumento
de eventos tromboembólicos em todos grupos analisados, apesar da baixa
prevalência. O método com maior risco foi o patch
transdérmico, contudo o resultado não foi ajustado para possíveis fatores
de risco que possam ter influenciado o resultado, como trombofilias e traumas;
·
O método que menos se
associou com eventos tromboembólicos foi o DIU, sendo um método extremamente
eficaz e sem aumento de eventos trombóticos descritos na literatura.
Pílula do Clube: Neste estudo observou-se
um maior número de eventos tromboembólicos com o uso de anticoncepcional
hormonal quando comparado com o não uso. Quando analisado em um contexto maior,
o risco é extremamente baixo e, portanto, o estudo não suporta evidência que
contraindique o uso do anticoncepcional hormonal em mulheres com diabetes.
Discutido no Clube de Revista de 30/01/2017.