Laura A. Young, John B. Buse, Mark A. Weaver, Maihan
B. Vu, C. Madeline Mitchell, Tamara Blakeney, Kimberlea Grimm, Jennifer Rees,
Franklin Niblock, Katrina E. Donahue, for the Monitor Trial Group
JAMA Intern Med 2017, 177(7):920-929.
Trata-se de ensaio clínico
randomizado, aberto e pragmático desenvolvido em 15 clínicas de atenção
primária nos EUA com objetivo de avaliar se a automonitorização da glicose capilar (AMGC) seria efetiva em melhorar o controle glicêmico ou a qualidade de vida em pacientes com
diabetes tipo 2 (DM2) não tratados com insulina. Foram incluídos pacientes com
DM2, idade ³ 30
anos, HbA1c entre 6,5 e 9,5%, atendidos na atenção primária. Os critérios de
exclusão foram: plano de consultar endocrinologista no próximo ano, uso de
insulina, plano de iniciar insulina, plano de engravidar ou trocar de cidade, ou
outras condições que os colocariam em risco se seguissem o protocolo do estudo.
Os desfechos primários foram a mudança da HbA1c e no questionário de qualidade
de vida (HRQOL). Os desfechos
secundários foram a mudança nos escores de outros questionários relacionados
aos sintomas do DM2, autocuidado e satisfação com o tratamento. Os pacientes
foram randomizados em um de três grupos: não realizar AMGC, AMGC uma vez ao dia
e AMGC uma vez ao dia com recebimento de mensagens automáticas (motivação e
educação) de acordo com o valor de glicose capilar medido. O manejo do diabetes
era realizado pelo médico da atenção primária, que recebia o sumário dos dados
da AMGC e era treinado para as opções de tratamento recomendadas pela American Diabetes Association (ADA). Os
pacientes foram avaliados por questionários e HbA1c no início do estudo e 52
semanas após. Os eventos adversos foram monitorados através de alertas de
hospitalização/idas à emergência pelo prontuário eletrônico e por entrevista ao
fim do estudo.
Foram randomizados 152
pacientes para o grupo sem AMGC, 150 pacientes para fazer AMCG e 148 pacientes
para fazer AMGC e receber as mensagens automáticas; 93% completaram o estudo. A
média etária foi de 61 anos, proporção maior de mulheres, maioria brancos e com
ensino médio ou superior completos, IMC médio de 33 kg/m2. A duração
média de doença foi de 6 anos, tratada principalmente com metformina (80%) e/ou
sulfoniluréia (35%), com HbA1c média de 7,5%. Aproximadamente 75% dos pacientes
realizava AMCG antes do estudo. Ao final de 1 ano, não houve mudança na HbA1c
entre os grupos: 7,52% no início e 7,55% no fim (grupo sem AMGC); 7,55% no
início e 7,49% no fim (grupo com AMCG); 7,61% no início e 7,51% no fim (grupo
com AMCG e mensagens). Não houve mudança nos escores de qualidade de vida. Em
relação aos desfechos secundários, o único que teve mudança foi o de sumário de
atividades de autocuidado nos dois grupos que fizeram AMCG, mas essa diferença
deveu-se apenas à presença de medidas de glicose capilar como um dos itens
pontuadores neste questionário. Não houve diferença no início de insulina entre
os grupos: 8,6% no grupo sem AMGC, 4% no grupo com AMGC e 5,4% no grupo com
AMGC e mensagens. Quando se avaliou a HbA1c dos pacientes que tinham dosado ao
longo do ano de estudo, encontrou-se redução de 0,3% na HbA1c aos 6 meses nos
grupos com AMGC em comparação com o controle, que desapareceu ao final de 12
meses. Não houve diferença na taxa de eventos adversos entre os grupos. Ao
longo do estudo, houve redução progressiva na adesão à AMGC nos grupos
intervenção, e no grupo controle cerca de 24% relataram uso de AMGC algumas vezes por mês.
As principais limitações do
estudo foram: parte dos pacientes não aderiu ao grupo designado (porém análise
por protocolo foi semelhante); pouca interação entre médicos assistentes e
pesquisadores (ausência de dados sobre as condutas tomadas de acordo com os
valores de glicose registrados); o fato de os pacientes serem provenientes de
clínicas afiliadas ao mesmo sistema de saúde (reduz capacidade de
generalização). Durante o Clube de Revista, foram discutidos os seguintes
pontos:
A grande maioria dos pacientes utilizava a AMCG
antes de entrar no estudo, o que enfraquece a adesão do grupo controle, além de
potencialmente reduzir um possível efeito benéfico da intervenção;
·
Os pacientes já apresentavam controle glicêmico
razoável (HbA1c média 7,5%) ao entrarem no estudo, o que pode dificultar que
qualquer tipo de intervenção terapêutica traga efeito clinicamente
significativo na HbA1c;
·
As mensagens automáticas tinham a
característica de comunicação unidirecional, sem a possiblidade de interação do
paciente com a equipe médica, podendo explicar em parte a ausência de
efetividade.
Pílula
do clube: A automonitorização de glicose capilar, mesmo em
associação com mensagens automáticas de educação/motivação, não resultou em
melhora no controle glicêmico ou no escore de qualidade de vida relacionada à
saúde entre pacientes com DM2 não tratados com insulina. Esses achados sugerem
que esta intervenção não deva ser usada rotineiramente nessa população.
Discutido no Clube de Revista de
24/07/2017.
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