quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Effect of iodine supplementation in pregnant women on child neurodevelopment: a randomised, double-blind, placebo-controlled trial

Gowachirapant S, Jaiswal N, Melse-Boonstra A, Galetti V, Stinca S, Mackenzie I, Thomas S, Thomas T, Winichagoon P, Srinivasan K, Zimmermann MB.

Lancet Diabetes Endocrinol 2017, 5(11):853-863.

Trata-se de ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo desenvolvido na Índia e Tailândia, em hospitais que atendiam predominantemente população de classe média, com objetivo de avaliar a eficácia e segurança da suplementação de iodo em gestantes com deficiência de iodo leve sobre o neurodesenvolvimento infantil. Foram incluídas gestantes na sua primeira consulta pré-natal, com feto único, idade gestacional (IG) de até 14 semanas, sem doenças de tireoide ou doenças sistêmicas, randomizadas para receber 200 mcg/dia de iodo (tablete de iodeto de potássio) ou placebo até o dia do parto. Este estudo foi inicialmente projetado para avaliar as crianças até 2 anos após o parto, depois estendido até 5-6 anos. A justificativa da mudança foi que a avaliação cognitiva em idade escolar é mais ampla e melhor preditora da inteligência na idade adulta.
Foram incluídas 832 gestantes, idade média de 28 anos, IG inicial de 10,7 semanas, concentração urinária de iodo (CUI) média em amostra de 131 mcg/L (deficiência leve, segundo a OMS), sendo que 94% usavam sal iodado no domicílio.  As gestantes indianas tinham CUI maior (188 vs. 112 mcg/L). A taxa média de adesão à suplementação foi de 87%. Ao longo do estudo, ocorreram muitas perdas (602 gestantes foram avaliadas no parto) - os principais motivos foram retirada do consentimento e mudança de cidade. As crianças foram avaliadas através de escalas de desenvolvimento neurológico com 6 semanas, 1 ano, 2 anos e entre 5-6 anos. O desfecho primário foi o escore de QI (performance e verbal) pelo Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence Third Edition (WPSSI-III) e o escore composto de função executiva global pelo Bayley Scales of Infant Development Third Edition (BRIEF-P) entre 5-6 anos. Os desfechos secundários foram: resposta auditiva, peso, altura, CUI, TSH e T4 entre 5-6 anos.
Não houve diferença nos desfechos primários entre os dois grupos, assim como nas outras escalas utilizadas para avaliar o desenvolvimento neurológico das crianças. A presença de escore anormal na escala de WPPSI-III não diferiu entre os grupos. Não houve diferença nos desfechos secundários, na frequência de partos pré-termo, baixo peso ao nascer, e na função tireóidea materna. As crianças dos dois grupos tiveram CUI considerada suficiente. Não houve diferença na frequência de eventos adversos. Identificaram-se 2 casos de hipotireoidismo declarado no grupo do iodo no primeiro trimestre (ambos ficaram eutireoideos nos trimestres seguintes) e 8 casos de hipertireoidismo no primeiro trimestre (6 no grupo iodo e 2 no placebo), com nenhum caso nos trimestres seguintes.
As principais limitações do estudo foram o início da suplementação tardiamente no primeiro trimestre (considerando a importância dos hormônios tireoidianos maternos nas primeiras semanas de IG), avaliação CUI em amostra para avaliar a suficiência de iodo em nível individual, alta taxa de abandono (mas sem diferença significativa entre o grupo que permaneceu vs. saiu), e aumento da CUI no grupo placebo para a faixa normal a partir do segundo trimestre. Durante o Clube de Revista, foram discutidos os seguintes pontos:
·         Alta taxa de abandono: 832 gestantes incluídas, apenas 330 crianças avaliadas para o desfecho primário;
·         Não houve descrição se alguma gestante recebeu tratamento para hiper ou hipotireoidismo pelo médico assistente durante o pré-natal;
·         Não houve descrição dos efeitos adversos considerados sérios (morte ou admissão hospitalar);
·         O aumento da CUI do grupo placebo pode ter sido causado pelo aumento da ingestão de iodo na dieta ou até mesmo suplementação, já que as gestantes foram instruídas da importância de iodo na gestação.

Pílula do clube: A suplementação de 200 mcg/dia de iodo em gestantes com deficiência leve de iodo foi segura, mas não trouxe benefício no neurodesenvolvimento infantil. Esse resultado foi compatível com a recomendação da OMS de que a suplementação de iodo não é justificada em mulheres que residem em países com programa efetivo de iodização do sal.

Discutido no Clube de Revista de 30/10/2017.

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