Rathie Rajendram, Peter N
Taylor, Victoria J Wilson, Nicola Harris, Olivia C Morris, Marjorie Tomlinson,
Sue Yarrow, Helen Garrott, Helen M Herbert, Andrew D Dick, Anne Cook , Rao
Gattamaneni, Rajni Jain, Jane Olver, Steven J Hurel, Fion Bremner, Suzannah R
Drummond, Ewan Kemp, Diana M Ritchie, Nichola Rumsey, Daniel Morris, Carol
Lane, Nachi Palaniappan, Chunhei Li, Julie Pell, Robert Hills, Daniel G Ezra,
Mike J Potts, Sue Jackson, Geoffrey E Rose, Nicholas
Plowman, Catey Bunce, Jimmy M Uddin, Richard W J Lee, Colin M Dayan
Lancet Diabetes
Endocrinol. 2018 Apr;6(4):299-309
Trata-se
de ensaio clínico randomizado, multicêntrico, duplo cego e fatorial 2x2
controlado com placebo que objetivou avaliar a terapia combinada de azatioprina
e radioterapia orbital em pacientes que estavam em uso de corticoide oral
(prednisolona) para tratamento de oftalmopatia de Graves moderada a grave. Os
desfechos primários foram taxa de sucesso e fracasso do tratamento após 48
semanas e desfecho composto binário (melhora de ≥1 grau no escore de diplopia;
melhora > 8º na mobilidade ocular em qualquer direção; redução ≥2 mm na
proptose; redução ≥2 mm na abertura palpebral; melhora ≥1 no comprometimento do
tecido mole adjacente; melhora ≥1 linha no teste de Snellen; melhora subjetiva
do quadro por auto-julgamento). Desfechos secundários avaliados foram Clinical Activity Score (CAS) e GO-QoL
após 48 semanas. Foram incluídos pacientes oriundos de seis centros
oftalmológicos do Reino Unido, com idade entre 20-75 anos, com CAS ≥ 4 ou ≥ 2
com história de proptose ou restrição de mobilidade ocular nos últimos 6 meses,
e que tinham história prévia de disfunção tireoidiana ou TC/RM mostrando
comprometimento de, ao menos, dois músculos extraoculares. Foram elegíveis para
o estudo 298 pacientes, sendo selecionados 126. Estes foram alocados em quatro
grupos através de randomização por minimização: azatioprina + radioterapia orbital
(n=31); azatioprina + radioterapia simulada (n=31); radioterapia orbital + placebo
(n=32) e radioterapia simulada + placebo (n=32). Todos os participantes estavam
em uso de prednisona 80 mg VO há duas semanas e mais da metade apresentava
hipertireoidismo não compensado. Participantes que apresentassem piora do
quadro (aumento > 2 pontos no CAS ou neuropatia óptica) ou que apresentassem
anormalidades sustentadas nos exames de sangue, mesmo após ajuste da
azatioprina ou placebo, eram desligados do seguimento, sendo convidados a
retornar nas semanas 12 e 48 para reavaliação e análise por ITT.
Dos
126 pacientes, apenas 60 completaram as 48 semanas de acompanhamento (perda de
66 pacientes – 52%). No desfecho binário composto, 103 pacientes (50
azatioprina vs. 53 placebo e 49
radioterapia orbital vs. 54 placebo)
foram avaliados. Não houve diferença quando azatioprina (OR ajustado 2,56 IC95%
0,98-6,66 P = 0,058); radioterapia orbital (OR aj 0,89 IC95% 0,36-2,26 P = 0,80)
e azatioprina + radioterapia orbital (OR aj 2,52 IC95% 0,87-7,29 P = 0,09) foram comparados a placebo. Também não houve
interação na associação de azatioprina + radioterapia orbital (P interação =
0,86). No CAS, os 107 pacientes avaliados tiveram melhora. Entretanto, não
houve diferença nos grupos tratados com azatioprina e/ou radioterapia orbital
em relação ao placebo. Da mesma forma, houve melhora em todos os pacientes que
responderam o GO-QoL, embora sem significância estatística nos grupos
intervenção vs. placebo. Dos 66
pacientes que não completaram as 48 semanas de seguimento, 45 (68% de 66)
retornaram nas semanas 12 e/ou 48 para reavaliação. Diante da significativa
perda de seguimento da amostra, foi realizada análise post-hoc per protocol,
mostrando melhora dos pacientes que usaram azatioprina vs. placebo (OR aj 6,83
IC95% 1,66-28,1 P=0,008) em relação ao desfecho composto binário,
principalmente após seguimento de 24 semanas. Não houve significância
estatística com a radioterapia orbital em nenhum desfecho, tanto na avaliação
precoce quanto tardia. A azatioprina mostrou benefício em pacientes após 24
semanas de seguimento no desfecho composto, dado encontrado na análise post-hoc. Deve, portanto, ser analisada
com todas as ressalvas inerentes a avaliações dessa natureza. Foi discutido no
clube:
·
O planejamento do estudo não foi o mais
adequado, dada a porcentagem de desligamento do seguimento, seja por critérios
pré-estabelecidos ou por desistência. Essas perdas repercutiram diretamente nos
resultados;
·
O uso de prednisona em altas doses (80 mg)
indiscriminadamente em todos os participantes, com redução sequencial para 20 mg,
pode ter gerado recidivas clínicas, gerando desligamento dos pacientes pelo
critério de piora do quadro oftálmico;
·
As doses de azatioprina estabelecidas no
protocolo foram maiores do que normalmente se utiliza em doenças autoimunes.
Essa conduta pode ter aumentado o risco de efeitos colaterais e consequente
descontinuação dos participantes.
Pílula do clube: O
tratamento padrão-ouro para oftalmopatia de Graves segue sendo corticoterapia,
não sendo possível conclusões definitivas desse estudo, uma vez que a
radioterapia não apresentou qualquer benefício e a azatioprina mostrou apenas
benefício na análise post-hoc em
pacientes com mais de 24 semanas de seguimento.
Discutido
no Clube de Revista de 02/04/2018.