Sima Nazarpour, Fahimeh Ramezani
Tehrani, Masoumeh Simbar, Maryam Tohidi, Sonia Minooee, Maryam Rahmati and
Fereidoun Azizi.
J Clin Endocrinol Metab 2018, 103 (3): 926-935.
Não há informação na literatura
sobre possível benefício do tratamento do hipotireoidismo subclínico em
gestantes com anticorpo antiperoxidase (anti-TPO) negativo; até o momento
somente estudos observacionais foram publicados nessa área. Os limiares do TSH
empregados para definição de tratamento nessa população variam entre os estudos,
frequentemente sendo adotados valores de 2,5 mUI/L e 4,0 mMUI/L. O objetivo
desse estudo foi avaliar o benefício do tratamento com levotiroxina (LT4) em
gestantes com anti-TPO negativo. O estudo consistiu em duas fases: 1ª fase)
Estudo transversal de base populacional, com seleção de 1.746 mulheres, entre 4
a 12 semanas de gestação, sem disfunção tireoideana pré-existente; a seleção
ocorreu através de amostragem por conglomerados de clínicas de pré-natal do Shahid Beheshti University of Medical
Sciences. Após a exclusão de hipertireodismo
ou hipotireoidismo franco (n=75), hipertireoidismo subclínico (n=25), hipotireoidismo
subclínico com anti-TPO positivo (n=134) e gestações com gêmeos (n=23),1.485
gestantes foram elegíveis para a segunda fase. 2ª fase) Ensaio clínico randomizado
com cegamento das pacientes anti-TPO negativo em eutireoidismo (n=366) ou
hipotireoidismo subclínico (n=1.028) com seguimento até o parto. O desfecho
primário era parto prematuro (idade gestacional < 37 semanas) e o desfecho
secundário era ruptura prematura de placenta, natimorto e admissão neonatal. Foi
definido como eutireoidismo quando TSH entre 0,1 a 2,5 mUI/L e hipotireoidismo
subclínico quando TSH entre 2,5 a 10 mUI/L, ambos com T4 livre entre 1 a 4,5
ng/dl. As pacientes com disfunção tireoideana subclínica foram alocadas em dois
grupos: grupo A (n=183) para receber 1 mcg/kg/dia de LT4, iniciado 4-8 dias
após a primeira visita pré-natal; e grupo B (n=183), onde não foi realizada
intervenção. As pacientes em eutireoidismo foram intituladas como grupo C. Foram
realizadas coletas laboratoriais (TSH, T4 total e T3 uptake) na primeira visita, com idade gestacional de 20-24 semanas
e 30-34 semanas.
No grupo A no 2º e 3º
trimestre os níveis séricos do TSH foram menores em relação ao grupo B (P<0,001),
o que confirmou a adesão ao tratamento. Em relação ao parto pré-termo,
utilizando limiar de 2,5 mUI/L, o tratamento do hipotireodisimo subclínico não
demonstrou diferença entre as gestantes do grupo A vs. grupo B (RR 0,86 IC95% 0,47-1,55, P=0,61). Quando foram
comparados os grupos A e B com o grupo C, houve mais eventos do desfecho
primário (grupo A vs. C: RR 1,91 IC95%
1,14-3,18 P=0,01 e grupo B vs. C: RR
2,22 IC95% 1,37-3,60 P=0,001). Reanálises com limiar 4mUI/L (análise não
planejada no registro do estudo) mostraram redução do desfecho primário no grupo
A vs. B (RR 0,38 IC95% 0,15-0,98 P=0,04).
No Clube de Revista foi discutido:
·
Os resultados
“positivos” só foram encontrados com mudanças nos critérios, não planejadas
previamente. É possível que esta reanálise tenha sido proposta para se
“adequar” à diretriz da American Thyroid Association
de 2017;
·
Quase 50% das
pacientes do grupo A foram arroladas com idade gestacional superior a 12
semanas, o que difere do critério de inclusão exposto e o que pode ter
interferido nos resultados;
·
Uma limitação
importante foi a não avaliação de fatores intervenientes para ocorrência de
parto prematuro (como por exemplo o tabagismo).
Pílula do Clube: O tratamento do
hipotireoidismo subclínico em gestantes anti-TPO negativo não parece reduzir o
número de partos pré-termo; porém novos estudos são necessários para descobrir
se existe real benefício quando TSH ≥ 4mUI/L.
Discutido no Clube de Revista de 26/03/2018.
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