Tiange Wang, Yoriko Heianza, Dianjianyi Sun, Tao
Huang, Wenjie Ma, Eric B Rimm, JoAnn E Manson, Frank B Hu, Walter C Willett, Lu
Qi
BMJ 2018 Jan 10;360:j5644.
Trata-se
de estudo observacional que utilizou dados de duas coortes prospectivas (Nurses’ Health Study e Health Professionals Follow-up Study)
com objetivo de avaliar o efeito de três padrões de dieta saudáveis sobre o IMC
de pacientes com alto risco genético para obesidade. Foram incluídos 8.000
mulheres e 5.000 homens de ascendência europeia, sem diagnóstico de câncer,
diabetes ou doença cardiovascular, seguidos de 1986 a 2006. As avalições de
peso, altura e padrão nutricional foram realizadas a cada 4 anos através de
questionários. Foram utilizados três padrões diferentes de dieta saudável: Alternate Healthy Eating Index 2010
(AHEI-2010), Dietary Approach to Stop
Hypertension (DASH) e Alternate
Mediterranean Diet (AMED), todos com estudos prévios demonstrando redução
de desfechos cardiovasculares e redução de peso. Os pacientes foram submetidos
à avaliação genotípica para 77 polimorfismos associados à obesidade em descendentes
de europeus, sendo classificados como de baixo, moderado e alto risco genético.
Foi realizada análise multivariada para medidas repetidas para avaliar a
associação entre escore de risco genético, escore de adesão aos três tipos de
dieta e variação do IMC. Foi conduzida também análise de sensibilidade,
incluindo apenas pacientes com menos de 65 anos, sem história de tabagismo e
outros 20 polimorfismos para obesidade (não específicos para população européia).
Observou-se
que a associação entre aumento do IMC e risco genético foi atenuada com a
melhora da adesão à dieta AHEI-2010 na população Nurse´s Health Study (P para interação < 0,001) e Health Professional Follow-up Study (P
para interação 0,05). Em números absolutos, ocorreu aumento do IMC de 0,07 em 4
anos, a cada + 10 alelos de risco, no grupo que piorou a adesão à dieta
AHEI-2010; já entre aqueles que melhoraram o padrão alimentar, houve redução do
IMC em -0,01. Tal variação correspondeu à mudança de peso de + 0,16 kg vs. - 0,02 kg, a cada 4 anos. De outra
forma, a cada melhora do Escore AHEI-2010 em 1 desvio-padrão, houve uma redução
no IMC de -0,12, -0,14 e -0,18 (que correspondeu a -0,35, -0,36 e -0,50 kg)
entre os grupos de baixo, moderado e alto risco genético, respectivamente.
Interações semelhantes foram observadas para a dieta DASH, mas não para a AMED.
As análises de sensibilidade corroboraram tais resultados. Durante o Clube de
Revista foram discutidos os seguintes aspectos:
·
O
fato da dieta AMED não ter mostrado interação com IMC e risco genético pode se
dever ao fato de que seu escore varia entre 0 e 9 (AHEI-2010 varia de 0-110 e
DASH de 9-40), resultando em baixo poder discriminatório;
·
Há
robustez nos resultados, uma vez que os dados foram semelhantes para as duas
coortes independentes e para as análises de sensibilidade;
·
Não
se pode excluir viés de aferição, uma vez que o peso foi auto relatado (mesmo
que tenha sido validado em subamostra), nem causalidade reversa e presença de
confundidores não mensurados (uma vez que se trata de estudo observacional);
·
O
fato da população do atual estudo ser apenas uma pequena amostra da população
total das duas coortes deixa margem para viés de seleção. Não fica claro qual
foi o critério para realizar exame genético nas pessoas que o realizaram;
·
Apesar
dos valores absolutos de redução de peso e IMC serem pequenos, tal resultado é
cumulativo para cada 4 anos. Levando-se em consideração de que se trata de
população relativamente jovem (média de idade de 55-56 anos) e de alto risco
genético para obesidade, mesmo que pequenas, as reduções podem representar
benefício clínico importante em longo prazo.
Pílulas do clube: A adesão
a um padrão de dieta saudável parece atenuar o risco genético individual para
obesidade e mesmo indivíduos com alto risco genético parecem responder com
perda de peso quando são adotadas medidas dietéticas.
Discutido no Clube de Revista de
29/01/2018.
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